quinta-feira, 27 de agosto de 2009

DEZ MITOS, medos e dúvidas sobre a PSIQUIATRIA

Porque procurar um psiquiatra se meu problema é espiritual?

Somos seres compostos por uma alma, espírito e corpo. Logo, ainda que estejamos plenamente restaurados do ponto de vista espiritual, somos humanos e podemos ser acometidos por problemas que atingem nossa alma: depressão, medo, angústia, dentre outros. A conversão a fé cristã nos restaura espiritualmente, com uma nova natureza espiritual viva para Deus, entretanto, não apaga instantaneamente nossos traumas do passado, personalidade, conflitos familiares e dificuldades emocionais. Um psiquiatra ou psicólogo pode nos ajudar a melhorar mais rapidamente destes problemas.

Mas, psiquiatra não é médico de louco?

De fato, o profissional mais qualificado para tratar casos de loucura é o psiquiatra. Entretanto, a psiquiatria é uma especialidade médica ampla, tendo várias áreas de atuação: depressão, ansiedades, fobias, transtornos do sono, transtorno bipolar, distúrbios da sexualidade, transtornos alimentares, demências e dependência química, dentre outros transtornos. Além disso, a psiquiatria é uma especialidade médica como qualquer outra, amparada por estudos clínicos universalmente aceitos e praticados.
Entretanto, muitas pessoas por preconceito deixam de consultar um psiquiatra, fazendo com que doenças de baixa gravidade se tornem doenças graves, prejudicando a recuperação futura do paciente.

Psiquiatras dopam as pessoas com remédio.

No início do uso das medicações em Psiquiatria alguns fármacos tinham elevado potencial sedativo e grande número de efeitos colaterais. Com os avanços da medicina e melhor conhecimento dos transtornos mentais foi possível realizar tratamento com menor número de medicações e efeitos colaterais. Entretanto, todos os medicamentos podem apresentar efeitos adversos, tornando a consulta com um especialista fundamental.

As medicações psiquiátricas viciam e geram dependência.

Em torno de 80% dos transtornos mentais apresentam manutenção da cura após a suspensão das medicações. Entretanto, alguns transtornos mentais podem demandar o uso contínuo das mesmas. Neste caso, é importante lembrar que não tomar as medicações pode trazer prejuízos em várias áreas no dia a dia do paciente: relacionamentos, trabalho, família, finanças, etc. Importante lembrar que aceitamos com muita facilidade o uso crônico de medicações para hipertensão, gastrite, diabetes, dores, etc., mas, não aceitamos o uso crônico de medicações psiquiátricas, mesmo quando elas trazem grandes melhorias em nossa qualidade de vida.

Como confiar em um psiquiatra se ele não comprova as doenças com exames?

A origem dos transtornos mentais é complexa: fatores genéticos geram uma predisposição que pode ou não evoluir para um transtorno mental, dependendo da personalidade, traumas, conflitos, qualidade de vida, e outros pontos do funcionamento mental do paciente. Essas alterações genéticas e no comportamento geral do paciente não são evidenciadas em exames (tomografia, ressonância e exames de sangue) tornando o diagnóstico psiquiátrico altamente dependente de uma boa entrevista clínica. Eventualmente, um psiquiatra pode solicitar exames por suspeitar que doenças orgânicas estejam causando sintomas psiquiátricos, ou como ajuda no diagnóstico psiquiátrico.

Os psiquiatras mudam e confundem a mente das pessoas.

O objetivo do tratamento psiquiátrico é ajudar as pessoas a terem alívio e melhora, ainda que parcial, no seu sofrimento e funcionamento mental. O psiquiatra não interfere nos gostos e preferências dos pacientes, respeitando profissionalmente suas preferências sociais, espirituais, ocupacionais, sexuais, ainda que possa fornecer auxílio e orientações pertinentes a estas áreas.

Mas tratar com um psiquiatra não é falta de fé ou não acreditar que Deus pode curar?

Creio, particularmente, que Deus pode curar as pessoas. Esta cura pode ocorrer de forma direta e sobrenatural: o chamado milagre. Entretanto, Deus concede sabedoria aos médicos e a cura pode ocorrer por meio da ação deles. A ação de Deus na vida de cada ser humano é altamente particular, e com um propósito específico para cada um, fazendo com que experiências de alguns não sejam experiências de todos.

Os psiquiatras são estranhos e misteriosos, não explicam as doenças aos pacientes.
Os psiquiatras geralmente estão abertos aos pacientes e a tirar dúvidas, como qualquer outro médico. Às vezes, algumas informações não são transmitidas por não ser o melhor momento e por gerar ansiedade nos pacientes. Além disso, em alguns casos, o psiquiatra recorre a família do paciente, para que possa formar uma rede forte em sua recuperação.

Psiquiatras gostam de internar pacientes em hospícios por longo tempo e até para a vida toda.

Infelizmente, por longo tempo, os pacientes psiquiátricos foram internados em condições precárias em hospícios e casas de repouso, excluídos da sociedade e da família. Tal prática foi mudada por um movimento mundial, chamado Anti-manicomial, que denunciava exageros e defendia um tratamento psiquiátrico sem exclusão social e com humanização. Há leis que defendem os pacientes de tais práticas. Entretanto, os psiquiatras podem indicar uma internação eventualmente, como qualquer outro médico, dependendo da gravidade de cada caso, proporcionando um convívio social e familiar ao paciente tão logo quanto possível.

O tratamento psiquiátrico é muito caro.

Uma pessoa com transtorno mental pode ter grandes prejuízos em seu trabalho, relacionamentos, família e espiritualidade. Estes prejuízos podem trazer outras grandes conseqüências: perdas financeiras, perda de emprego, conflitos conjugais e em relacionamentos em geral. Logo, os benefícios de um tratamento efetivo superam sobremaneira os custos de tratamento

sábado, 15 de agosto de 2009

O diagnóstico clínico da depressão

Clínico diagnostica apenas 47% dos casos de depressão, mostra estudo

JULLIANE SILVEIRAda Folha de S..Paulo

Uma meta-análise de 41 estudos de dez países (envolvendo mais de 50 mil pacientes) mostra que somente 47% dos casos de depressão são diagnosticados no atendimento primário (durante uma consulta com um clínico-geral, por exemplo) e que há falso diagnóstico da doença em 20% dos casos.

O estudo, publicado na edição on-line do "Lancet", avaliou trabalhos desenvolvidos em países europeus, além de nos EUA, no Canadá e na Austrália. "Essa questão [do diagnóstico] tem gerado um debate duplo. Existem afirmações de que a depressão é subdiagnosticada, e há a posição contrária -segundo a qual a depressão é exageradamente diagnosticada pelo fato de os pacientes tenderem a se identificar como deprimidos e os clínicos do atendimento primário aceitarem isso", afirma o psiquiatra Marco Antônio Brasil, integrante do conselho consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria.

O número de afetados pela depressão no Brasil segue dados mundiais: 12% dos homens e 20% das mulheres terão a doença em alguma fase da vida. Em geral, nos serviços de atenção primária a incidência de depressão varia de 10% a 15% dos pacientes avaliados. "É uma taxa muito elevada, um problema de saúde pública. Em ambulatórios de cardiologia, os índices sobem para 20%", diz o psiquiatra Renério Fráguas Júnior, supervisor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O falso diagnóstico pode ocorrer quando o paciente apresenta sintomas facilmente confundíveis com depressão -caso de uma tristeza profunda por uma perda importante ou estresse. Isso pode levar a tratamentos desnecessários.

"Quando há treinamento, pode ocorrer excesso de diagnóstico. Mas mesmo pacientes [sem a doença] com alguns sintomas depressivos podem ter a qualidade de vida comprometida, com mais dificuldade para tomar decisões ou para se concentrar, por exemplo. Isso não quer dizer que tenham de tomar remédio, mas que eles precisam ser cuidados de alguma forma", pondera o psiquiatra.

Subdiagnóstico

No entanto, de acordo com os especialistas, o subdiagnóstico é muito recorrente e mais preocupante. Para Geraldo Possendoro, psiquiatra e professor de medicina comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a sobrecarga do serviço público também contribui para dificultar o diagnóstico precoce. "A consulta costuma ser muito rápida, o que faz com que o clínico foque somente na área dele", diz.

Segundo Brasil, é necessária a formação dos médicos generalistas para que o diagnóstico de depressão seja feito mais precocemente. "O deprimido não procura um psiquiatra, até por preconceito. Ele vai ao clínico, ao neurologista. .."

O suporte de um psiquiatra no atendimento primário pode ser necessário para que os clínicos aprendam a identificar sintomas de depressão. No entanto, a formação somente teórica não é suficiente para capacitar os médicos generalistas. "Além disso, é preciso dar supervisão, discutir os casos reais desses pacientes. É preciso um psiquiatra para discutir casos de dúvida", acrescenta Brasil.