sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sobre o CAPS III de Campos


Sou médico do CAPS III. É para mim uma alegria lidar com a clientela sofrida que faz parte de nossa rotina. Os CAPS foram instituidos no Brasil em 2001, na chamada Reforma Psiquiátrica que extinguiu os manicômios.
Nossa clientela é a maioria oriunda desse sistema. São chamados clientes "institucionalizados", que pode ser traduzido como um paciente que não sabe viver sem a instituição.
O CAPS III Romeo Casarsa, que foi protagonista de uma matéria veiculada no Jornal Nacional de hoje foi inaugurado em 2009.
Temos mais de 300 pacientes, dos quais atendemos mais de 80 ao dia.
Nenhum de nossos pacientes é acamado. Aliás, uma regra da instituição psiquiátrica é que o paciente esteja com o nível de consciência alerta e podendo andar. Caso sua consciência esteja apagada ou não consiga andar, configura uma caso clínico e não psiquiátrico. Nosso paciente é vertical. O paciente clínico é horizontal.
Essa demanda é externa, isto é, não dorme na instituição.
Mas temos sempre cerca de 6 pacientes internados, que geralmente permanecem lá em períodos de crise que não ultrapassam 7 dias.
Essa clientela, que vivia em hospitais, vive hoje uma realidade que concordamos é pobre, mas não há indignidade. Nossa clientela recebe quatro refeições por dia (desjejum, almoço, lanche e janta),  tem atendimento médico, psicológico, terapia ocupacional, música, fazem bijuterias e tem até uma grife: "Loucas por Acessórios". 
Essa clientela usa medicação sedativa. Eles passam o dia na instituição. Eles tem sono e deitam de dia.
Nós não temos leitos para 20 ou 30 pessoas que não estão propriamente "dormindo", mas sim descansando, tirando uma soneca de dia.
A forma como foram veiculadas as imagens sugerem que são pacientes internos que vivem amontoados ou que são acamados e estão sendo humilhados.
Reconheço que não temos o espaço físico adequado, entretanto, o que se viu foi uma hora de descanso em que muita gente deitou em colchonetes no mesmo horário. Detalhe: o horário é diurno!
Todos estes que estão ali repousando voltam para casa entre as 17 e 18 horas, após receber uma quentinha do jantar.
O clima ali só é agitado quando alguns pacientes apresentam crises de agitação ou agressividade. Nesses momentos, o corpo de enfermagem contém fisicamente até que seja feita a medicação tranquilizante.
Nunca vi ninguém ser humilhado, maltratado ou ignorado no Caps III.
Faria mesmo um desafio. Gostaria que os repórteres da Globo entrevistassem os nossos pacientes.
Seria uma forma sadia e madura de avaliar a instituição.
De qualquer forma, eu me sinto honrado em fazer parte do corpo técnico do CAPS III, que no meu entender é de primeira qualidade e supera as dificuldades materiais, supera as dificuldades de lidar com o paciente mais marginalizado de nossa sociedade e supera as dificuldades de lidar com a intriga, a calúnia e a ingratidão.


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Das gotinhas à tarja preta

DAS GOTINHAS À TARJA PRETA
Trajetória de um médico da Homeopatia à Psiquiatria

Dentro de pouco tempo lançarei este libreto.
Ele discutirá as questões que me fizeram deixar a prática de duas décadas de Homeopatia para abraçar a Psiquiatria.

Das Gotinhas à Tarja Preta foi o título que escolhi para simbolizar o que muita gente me pergunta e que eu tenho que explicar (ou não) muitas vezes.

Até agora, este é o sumário do livro:

1-         A VOCAÇÃO DA MEDICINA
2-         A FACULDADE NACIONAL DE MEDICINA
3-         O IPUB
4-         O ENCONTRO COM A HOMEOPATIA
5-         VINTE ANOS DE DOSES INFINITESIMAIS
6-         A FILOSOFIA DA UNICIDADE NOSOLÓGICA
7-         A FILOSOFIA DA UNICIDADE MEDICAMENTOSA
8-         O PRAGMATISMO DA ORGANICIDADE
9-         UMA TRANSIÇÃO GRADUAL
10-       A VOCAÇÃO PARA O PSIQUISMO
11-       O DIAGNÓSTICO EM PSIQUIATRIA
12-       OS TRANSTORNOS DE HUMOR
13-       A TEORIA DO ESPECTRO
14-       OS GRAVES ERROS NO USO DOS ANTIDEPRESSIVOS
15-       A CONFUSÃO DE ALMA COM CÉREBRO
16-     O SURTO PSICÓTICO
17-     TEMPO DE PSICOSE NÃO TRATADA
18-     A ESQUIZOFRENIA
19-     O AUTISMO
20-     O DÉFICT DE ATENÇÃO
21-     A ANSIEDADE
22-     TRANSTORNOS ALIMENTARES
23-     O TOC
24-       O ABUSO DE BENZODIAZEPÍNICOS
25-       ATÉ QUANDO DURA O TRATAMENTO?
26-       EXISTE CURA?
27-       FÉ E TRATAMENTO
28-       APRENDENDO SEMPRE


Aguardem!


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ENTREVISTA A FLÁVIO MUSSA TAVARES






SAÚDE
           
Qual é sua especialidade em saúde? Em que consiste seu trabalho?
Psiquiatria
           
Um link para saber mais de você ou da atividade que realiza.
http://psiquiatriaevida.blogspot.com
           
Que classe de clientes você tem, por que eles vêm a você e o que pode oferecer-lhes?
Particulares, Unimed e Sus. Ofereço tratamento medicamentoso, suporte profissional e amizade.
           
Qual é sua definição de saúde, e de uma vida saudável?
Saúde além de bem estar físico, emocional e sócio-econômico, como pede a OMS, acrescentaria, o espiritual também , representado pela busca da transcendência, que está imanente em todo ser vivo.
           
Felicidade e saúde, quanto têm em comum e quanto há de mito nessa relação?
Ser feliz é produzer menos adrenalina e gastar menos o seu corpo.
           
Medicina convencional e medicinas alternativas, o que é real e o que é superstição?
Não existe medicina alternativa, existe uma complementaridade entre todas as possibilidades de ajuda ao ser humano.
           
A mente pode provocar ou curar uma doença? Que evidências você conhece ao respeito?
O cérebro, produz endorfina, serotonina e dopamina, além de outras aminas que contibuem para a saúde e que dependem de um bom estado de espírito.
           
Você recomenda vitaminas, complementos nutricionais? Você considera provado seu efeito benéfico?
Muito pouco, tenho usado ultimamente o pidolato de piridoxina em 1500 mg ao dia para recuperação de alcoólatas.
           
Cada dia nasce um novo produto para frear o envelhecimento. É consolo o que realmente compramos?
No me entender sim.`É preciso aceitar a nossa mortalidade.
           
Obesidade, insônia, depressão, já são epidêmicos. O que isso diz sobre nosso sistema de vida? O que deve ser mudado em nível social?
Preconizo um abrandamento da sociedade capitalista impiedosa com o homem e com o meio ambiente e excludente.
           
A relação paciente/médico é parte do sucesso de um tratamento. Como deve ser?
Verdadeira e amiga.
           
Como as crenças ou superstições afetam a recuperação de um paciente?
A superstição sempre é um fator impeditivo, pois é associada ao medo. Ao contrário da fé e da esperança, que revigoram a coragem e são associadas a vigor físico e emocional.
           
Os erros mais freqüentes nas dietas de emagrecimento.
Os anorexígenos, pois partem do princípio de que o ser humano deve abolir um mecanismo natural, através de substâncias entorpecentes.
           
Fazem-se análises e radiografias desnecessárias demais nos centros médicos?
Sim, é preciso um exame clínico mais acurado, com uma boa ausculta e uma história clínica de modo a evitar um pouco mais a radiação.
           
Que nova tecnologia tem o potencial de salvar mais vidas no futuro próximo?
Creio que será a farmacogenômica, onde o medicamento será quase que específico de cada paciente.
           
Que campo da saúde ou da medicina lhe interessa mais para se dedicar nos próximos anos?
Estou muito entusiasmado com a Psiquiatria e quero dedicar-me até o último dia de minha vida à ela.