terça-feira, 9 de abril de 2013







Liberdade para matar?
A imagem acima foi publicada em quase uma folha inteira do jornal Gazeta do Povo de 03.04.2013, p. 13. Provavelmente foi publicada em todos os grandes jornais do país.
É verdade que a livre concorrência está prevista no art. 170 da Constituição Social e Democrática de Direito de 1988.
Mas antes da livre concorrência estão previstos na Constituição os fundamentos como cidadania, dignidade da pessoa humana; objetivos fundamentais como a construção de uma sociedade solidária, promoção do bem de todos.
No próprio art. 170, que trata da ordem econômica, é previsto que o Brasil deve ter por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, e que um dos princípios é a função social da propriedade. Apenas depois é citada a “livre concorrência”. E logo depois é ordenada a defesa do meio ambiente. Mas para a empresa Souza Cruz, apenas o que importa é a livre concorrência.
Milhões de crianças e adolescentes viciados fumando? Não tem problema, o que importa é o lucro.
Fumaça na nossa cara e bitucas de cigarro jogadas por todos os lugares, acabando com o meio ambiente? Não tem problema, o que importa é a liberdade da Souza Cruz.
A Souza Cruz paga milhões para advogados e publicitários convencerem a sociedade que ela deve ser livre para fazer o que bem entender.
Querem esconder que a Constituição prevê um Estado que intervêm na economia para o atendimento do interesse público.
Essa peça publicitária é indecente. É obscena. Deveria ser proibida. Qualquer propaganda de cigarro deveria ser proibida.
Xô neoliberalismo. Xô capitalismo selvagem. Xô propaganda da indústria fumageira! No Brasil não há liberdade para matar!


segunda-feira, 1 de abril de 2013

CADA PEÇA É IMPORTANTE

REPORTAGEM ALTO ASTRAL SOBRE CAPS III, de Patrícia Bueno, de O DIÁRIO


31/mar/2013
  • pacientes do Caps III vivem momentos descontraídos na oficina de bijuterias
Patrícia Bueno
Há cerca de quatro anos, a psicóloga Natália Costa Franco, que tinha o hobby de criar bijuterias em casa, resolveu levar a ideia para o seu antigo local de trabalho: uma das unidades do Centro de Atendimento Psicossocial, o Caps III. “Tínhamos uma demanda para uma oficina e resolvi experimentar. Por que não ensinar as técnicas aos pacientes?”, relembra.
Daí, foi só unir forças ao enfermeiro Luciano Reis Moreira, atual coordenador da oficina, para a coisa deslanchar de vez, e o que era somente uma ideia na cabeça (e muitas continhas coloridas nas mãos) acabou ganhando uma proporção bem mais ampla: virou grife, com direito à logomarca. “Resolvemos criar uma identidade para as peças, que são lindas, aí criamos o ‘Loucos por Acessórios’”, comenta Luciano.
Na oficina, que acontece toda sexta-feira, das 8h às 17h, o trabalho é levado a sério. Na sala arejada, a logomarca está orgulhosamente exposta em um pequeno banner pendurado na parede. Cerca de 20 pessoas participam da atividade. No local predomina o silêncio, afinal, o momento exige concentração. Gestos lentos e olhares fixos na tarefa.
Alguns parecem alheios à atividade, mas marcam presença. “Muitos chegam aqui com um nível de embotamento grande. Demora um pouquinho para irem se adaptando, mas só de estarem ali, sentados, já é uma vitória, Hoje eles estão assim, amanhã já pegam uma tarefa para fazer. Tem que ser no ritmo deles”, comenta Natália, que é só elogios às oficinas (no local há outras, como a de bordado e tapetes de retalho): “Clinicamente elas têm resposta muito positiva”, garante.
Sirley Ribeiro é um exemplo. Prestativa, movimenta-se pela sala, ajudando a arrumar as peças em pequenas caixas acomodadas em um armário. “Não tenho muito jeito pra fazer cordão, não, mas ajudo. É uma ocupação pra gente”, comenta. “Este é um trabalho de ressocialização. Não é fácil. Eles chegam com ares de desinteresse, mas aos poucos vão se envolvendo. A gente nota a evolução no comportamento deles”, diz Luciano.
As peças estão à venda a preços populares. O dinheiro é usado na compra de material e, principalmente, na promoção de passeios. “Já fomos à Lagoa de Cima e ao cinema. Eles já até assistiram a filmes em 3D, um luxo!”, diverte-se o enfermeiro.
O trabalho segue, com uma parada para o almoço. E continua. Afinal, eles estão produzindo peças para uma exposição, ainda sem data. Aos poucos, miçangas, botões e canutilhos vão ganhando a forma de cordões e chaveiros, com um acabamento de fazer inveja a muito artesão experiente. Cada continha colorida que passa pelo fio de nylon é importante para pessoas com histórias tão tristes. São esperanças que renascem a cada bijuteria que sempre chega junto a um sorriso. O sorriso de missão cumprida.

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