segunda-feira, 1 de abril de 2013

CADA PEÇA É IMPORTANTE

REPORTAGEM ALTO ASTRAL SOBRE CAPS III, de Patrícia Bueno, de O DIÁRIO


31/mar/2013
  • pacientes do Caps III vivem momentos descontraídos na oficina de bijuterias
Patrícia Bueno
Há cerca de quatro anos, a psicóloga Natália Costa Franco, que tinha o hobby de criar bijuterias em casa, resolveu levar a ideia para o seu antigo local de trabalho: uma das unidades do Centro de Atendimento Psicossocial, o Caps III. “Tínhamos uma demanda para uma oficina e resolvi experimentar. Por que não ensinar as técnicas aos pacientes?”, relembra.
Daí, foi só unir forças ao enfermeiro Luciano Reis Moreira, atual coordenador da oficina, para a coisa deslanchar de vez, e o que era somente uma ideia na cabeça (e muitas continhas coloridas nas mãos) acabou ganhando uma proporção bem mais ampla: virou grife, com direito à logomarca. “Resolvemos criar uma identidade para as peças, que são lindas, aí criamos o ‘Loucos por Acessórios’”, comenta Luciano.
Na oficina, que acontece toda sexta-feira, das 8h às 17h, o trabalho é levado a sério. Na sala arejada, a logomarca está orgulhosamente exposta em um pequeno banner pendurado na parede. Cerca de 20 pessoas participam da atividade. No local predomina o silêncio, afinal, o momento exige concentração. Gestos lentos e olhares fixos na tarefa.
Alguns parecem alheios à atividade, mas marcam presença. “Muitos chegam aqui com um nível de embotamento grande. Demora um pouquinho para irem se adaptando, mas só de estarem ali, sentados, já é uma vitória, Hoje eles estão assim, amanhã já pegam uma tarefa para fazer. Tem que ser no ritmo deles”, comenta Natália, que é só elogios às oficinas (no local há outras, como a de bordado e tapetes de retalho): “Clinicamente elas têm resposta muito positiva”, garante.
Sirley Ribeiro é um exemplo. Prestativa, movimenta-se pela sala, ajudando a arrumar as peças em pequenas caixas acomodadas em um armário. “Não tenho muito jeito pra fazer cordão, não, mas ajudo. É uma ocupação pra gente”, comenta. “Este é um trabalho de ressocialização. Não é fácil. Eles chegam com ares de desinteresse, mas aos poucos vão se envolvendo. A gente nota a evolução no comportamento deles”, diz Luciano.
As peças estão à venda a preços populares. O dinheiro é usado na compra de material e, principalmente, na promoção de passeios. “Já fomos à Lagoa de Cima e ao cinema. Eles já até assistiram a filmes em 3D, um luxo!”, diverte-se o enfermeiro.
O trabalho segue, com uma parada para o almoço. E continua. Afinal, eles estão produzindo peças para uma exposição, ainda sem data. Aos poucos, miçangas, botões e canutilhos vão ganhando a forma de cordões e chaveiros, com um acabamento de fazer inveja a muito artesão experiente. Cada continha colorida que passa pelo fio de nylon é importante para pessoas com histórias tão tristes. São esperanças que renascem a cada bijuteria que sempre chega junto a um sorriso. O sorriso de missão cumprida.

http://www.odiariorj.com/cada-peca-e-importante/http://www.odiariorj.com/cada-peca-e-importante/

Nenhum comentário:

Postar um comentário