quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Epidemia da Doença Mental



Por que cresce assombrosamente o número de pessoas com transtornos mentais e de pacientes tratados com antidepressivos e outros medicamentos psicoativos

por Marcia Angell

Parece que os americanos estão em meio a uma violenta epidemia de doenças mentais. A quantidade de pessoas incapacitadas por transtornos mentais, e com direito a receber a renda de seguridade suplementar ou o seguro por incapacidade, aumentou quase duas vezes e meia entre 1987 e 2007 – de 1 em cada 184 americanos passou para 1 em 76.

No que se refere às crianças, o número é ainda mais espantoso: um aumento de 35 vezes nas mesmas duas décadas. A doença mental é hoje a principal causa de incapacitação de crianças, bem à frente de deficiências físicas como a paralisia cerebral ou a síndrome de Down.

Um grande estudo de adultos (selecionados aleatoriamente), patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental, realizado entre 2001 e 2003, descobriu que um percentual assombroso de 46% se encaixava nos critérios estabelecidos pela Associação Americana de Psiquiatria, por ter tido em algum momento de suas vidas pelo menos uma doença mental, entre quatro categorias.

As categorias seriam “transtornos de ansiedade”, que incluem fobias e estresse pós-traumático; “transtornos de humor”, como depressão e transtorno bipolar; “transtornos de controle dos impulsos”, que abrangem problemas de comportamento e de déficit de atenção/hiperatividade; e “transtornos causados pelo uso de substâncias”, como o abuso de álcool e drogas. A maioria dos pesquisados se encaixava em mais de um diagnóstico.

O tratamento médico desses transtornos quase sempre implica o uso de drogas psicoativas, os medicamentos que afetam o estado mental.Na verdade, a maioria dos psiquiatras usa apenas remédios no tratamento e encaminha os pacientes para psicólogos ou terapeutas se acha que uma psicoterapia é igualmente necessária.

A substituição da “terapia de conversa” pela das drogas como tratamento majoritário coincide com o surgimento, nas últimas quatro décadas, da teoria de que as doenças mentais são causadas por desequilíbrios químicos no cérebro, que podem ser corrigidos pelo uso de medicamentos. Essa teoria passou a ser amplamente aceita pela mídia e pelo público, bem como pelos médicos, depois que o Prozac chegou ao mercado, em 1987, e foi intensamente divulgado como um corretivo para a deficiência de serotonina no cérebro.

O número de pessoas depressivas tratadas triplicou nos dez anos seguintes e, hoje, cerca de 10% dos americanos com mais de 6 anos de idade tomam antidepressivos. O aumento do uso de drogas para tratar a psicose é ainda mais impressionante. A nova geração de antipsicóticos, como o Risperdal, o Zyprexa e o Seroquel, ultrapassou os redutores do colesterol no topo da lista de remédios mais vendidos nos Estados Unidos.



que está acontecendo? A preponderância das doenças mentais sobre as físicas é de fato tão alta, e continua a crescer? Se os transtornos mentais são biologicamente determinados e não um produto de influências ambientais, é plausível supor que o seu crescimento seja real? Ou será que estamos aprendendo a diagnosticar transtornos mentais que sempre existiram? Ou, por outro lado, será que simplesmente ampliamos os critérios para definir as doenças mentais, de modo que quase todo mundo agora sofre de uma delas? E o que dizer dos medicamentos que viraram a base dos tratamentos? Eles funcionam? E, se funcionam, não deveríamos esperar que o número de doentes mentais estivesse em declínio e não em ascensão?

Essas são as questões que preocupam os autores de três livros provocativos, aqui analisados. Eles vêm de diferentes formações: Irving Kirsch é psicólogo da Universidade de Hull, no Reino Unido; Robert Whitaker é jornalista; e Daniel Carlat é um psiquiatra que clinica num subúrbio de Boston.

Os autores enfatizam diferentes aspectos da epidemia de doença mental. Kirsch está preocupado em saber se os antidepressivos funcionam. Whitaker pergunta se as drogas psicoativas não criam problemas piores do que aqueles que resolvem. Carlat examina como a sua profissão se aliou à indústria farmacêutica e é manipulada por ela. Mas, apesar de suas diferenças, os três estão de acordo sobre algumas questões importantes.

Em primeiro lugar, concordam que é preocupante a extensão com a qual as empresas que vendem drogas psicoativas – por meio de várias formas de marketing, tanto legal como ilegal, e usando o que muita gente chamaria de suborno – passaram a determinar o que constitui uma doença mental e como os distúrbios devem ser diagnosticados e tratados.

Em segundo lugar, nenhum dos três aceita a teoria de que a doença mental é provocada por um desequilíbrio químico no cérebro. Whitaker conta que essa teoria surgiu pouco depois que os remédios psicotrópicos foram introduzidos no mercado, na década de 50. O primeiro foi o Amplictil (clorpromazina), lançado em 1954, que rapidamente passou a ser muito usado em hospitais psiquiátricos, para acalmar pacientes psicóticos, sobretudo os com esquizofrenia. No ano seguinte, chegou o Miltown (meprobamato), vendido para tratar a ansiedade em pacientes ambulatoriais. Em 1957, o Marsilid (iproniazid) entrou no mercado como um “energizador psíquico” para tratar a depressão.

Desse modo, no curto espaço de três anos, tornaram-se disponíveis medicamentos para tratar aquelas que, na época, eram consideradas as três principais categorias de doença mental – ansiedade, psicose e depressão – e a psiquiatria transformou-se totalmente. Essas drogas, no entanto, não haviam sido desenvolvidas para tratar doenças mentais. Elas foram derivadas de remédios destinados ao combate de infecções, e se descobriu por acaso que alteravam o estado mental.

No início, ninguém tinha ideia de como funcionavam. Elas simplesmente embotavam sintomas mentais perturbadores. Durante a década seguinte, pesquisadores descobriram que essas drogas afetavam os níveis de certas substâncias químicas no cérebro.



m pouco de pano de fundo, e necessariamente muito simplificado: o cérebro contém bilhões de células nervosas, os neurônios, distribuídos em redes complexas, que se comunicam uns com os outros constantemente. O neurônio típico tem múltiplas extensões filamentosas (uma chamada axônio e as outras chamadas dendritos), por meio das quais ele envia e recebe sinais de outros neurônios. Para um neurônio se comunicar com outro, no entanto, o sinal deve ser transmitido através do minúsculo espaço que os separa, a sinapse. Para conseguir isso, o axônio do neurônio libera na sinapse uma substância química chamada neurotransmissor.

O neurotransmissor atravessa a sinapse e liga-se a receptores no segundo neurônio, muitas vezes um dendrito, ativando ou inibindo a célula receptora. Os axônios têm vários terminais e, desse modo, cada neurônio tem múltiplas sinapses. Depois, o neurotransmissor é reabsorvido pelo primeiro neurônio ou metabolizado pelas enzimas, de tal modo que o status quo anterior é restaurado.



uando se descobriu que as drogas psicoativas afetam os níveis de neurotransmissores, surgiu a teoria de que a causa da doença mental é uma anormalidade na concentração cerebral desses elementos químicos, a qual é combatida pelo medicamento apropriado.

Por exemplo: como o Thorazine diminui os níveis de dopamina no cérebro, postulou-se que psicoses como a esquizofrenia são causadas ​​por excesso de dopamina. Ou então: tendo em vista que alguns antidepressivos aumentam os níveis do neurotransmissor chamado serotonina, defendeu-se que a depressão é causada pela escassez de serotonina. Antidepressivos como o Prozac ou o Celexa impedem a reabsorção de serotonina pelos neurônios que a liberam, e assim ela permanece mais nas sinapses e ativa outros neurônios. Desse modo, em vez de desenvolver um medicamento para tratar uma anormalidade, uma anormalidade foi postulada para se adequar a um medicamento.

Trata-se de uma grande pirueta lógica, como apontam os três autores. Era perfeitamente possível que as drogas que afetam os níveis dos neurotransmissores pudessem aliviar os sintomas, mesmo que os neurotransmissores não tivessem nada a ver com a doença. Como escreve Carlat: “Por essa mesma lógica, se poderia argumentar que a causa de todos os estados de dor é uma deficiência de opiáceos, uma vez que analgésicos narcóticos ativam os receptores de opiáceos do cérebro.” Ou, do mesmo modo, se poderia dizer que as febres são causadas pela escassez de aspirina.

Mas o principal problema com essa teoria é que, após décadas tentando prová-la, os pesquisadores ainda estão de mãos vazias. Os três autores documentam o fracasso dos cientistas para encontrar boas provas a seu favor. Antes do tratamento, a função dos neurotransmissores parece ser normal nas pessoas com doença mental. Nas palavras de Whitaker:

Antes do tratamento, os pacientes diagnosticados com depressão, esquizofrenia e outros transtornos psiquiátricos não sofrem nenhum “desequilíbrio químico”. No entanto, depois que uma pessoa passa a tomar medicação psiquiátrica, que perturba a mecânica normal de uma via neuronal, seu cérebro começa a funcionar... anormalmente.

Carlat refere-se à teoria do desequilíbrio químico como um “mito” (que ele chama de “conveniente” porque reduziria o estigma da doença mental). E Kirsch,cujo livro centra-se na depressão, resume a questão assim: “Parece fora de dúvida que o conceito tradicional de considerar a depressão como um desequilíbrio químico no cérebro está simplesmente errado.” (O motivo da persistência dessa teoria, apesar da falta de provas, é um tema que tratarei adiante.)

Os remédios funcionam? Afinal de contas, independentemente da teoria, essa é a questão prática. Em seu livro seco e extremamente cativante, The Emperor’s New Drugs [As Novas Drogas do Imperador], Kirsch descreve os seus quinze anos de pesquisa científica para responder a essa pergunta, no que diz respeito aos antidepressivos.

Quando começou o trabalho em 1995, seu principal interesse eram os efeitos de placebos. Para estudá-los, ele e um colega revisaram 38 ensaios clínicos que comparavam vários tratamentos da depressão com placebos, ou comparavam a psicoterapia com nenhum tratamento. A maioria dessas experiências durava de seis a oito semanas, e durante esse período os pacientes tendiam a melhorar um pouco, mesmo se não tivessem nenhum tratamento.

Mas Kirsch descobriu que os placebos eram três vezes mais eficazes do que a ausência de tratamento. Isso não o surpreendeu. O que o surpreendeu mesmo foi que os antidepressivos foram apenas marginalmente mais úteis do que os placebos: 75% dos placebos foram tão eficazes quanto os antidepressivos. Kirsch resolveu então repetir o estudo, dessa vez com a análise de um conjunto de dados mais completo e padronizado.

Os dados que ele usou foram obtidos da Food and Drug Administration, a FDA [o órgão público americano encarregado do licenciamento e controle de medicamentos]. Quando buscam a aprovação da FDA para comercializar um novo remédio, os laboratórios farmacêuticos devem apresentar à agência todos os testes clínicos que patrocinaram. Os testes são geralmente duplo-cego e controlados com placebo. Ou seja: os pacientes participantes recebem aleatoriamente a droga ou o placebo, e nem eles nem os seus médicos sabem o que receberam.

Os pacientes são informados de que receberão ou um medicamento ativo ou um placebo. E também são avisados dos efeitos colaterais que podem ocorrer. Se dois testes comprovam que o medicamento é mais eficaz do que o placebo, ele é geralmente aprovado. Mas os laboratórios podem patrocinar quantos testes quiserem, e a maioria deles pode dar negativo – isto é, não mostrar a eficácia do remédio. Tudo o que eles precisam é de dois testes com resultados positivos. (Os resultados dos testes de um mesmo medicamento podem variar por muitas razões, entre elas a forma como o ensaio foi concebido e realizado, seu tamanho e os tipos de pacientes pesquisados.)

Por razões óbvias, as indústrias farmacêuticas fazem questão de que seus testes positivos sejam publicados em revistas médicas, e os médicos fiquem sabendo deles. Já os testes negativos ficam nas gavetas da FDA, que os considera propriedade privada e, portanto, confidenciais. Essa prática distorce a literatura médica, o ensino da medicina e as decisões de tratamento.



irsch e seus colegas usaram a Lei de Liberdade de Informação para obter as revisões da FDA de todos os testes clínicos controlados por placebo, positivos ou negativos, submetidos para a aprovação dos seis antidepressivos mais utilizados, aprovados entre 1987 e 1999: Prozac, Paxil, Zoloft, Celexa, Serzone e Effexor.

Ao todo, havia 42 testes das seis drogas. A maioria deles era negativo. No total, os placebos eram 82% tão eficazes quanto os medicamentos, tal como medido pela Escala de Depressão de Hamilton, uma classificação dos sintomas de depressão amplamente utilizada. A diferença média entre remédio e placebo era de apenas 1,8 ponto na Escala, uma diferença que, embora estatisticamente significativa, era insignificante do ponto de vista clínico. Os resultados foram quase os mesmos para as seis drogas: todos igualmente inexpressivos. No entanto, como os estudos positivos foram amplamente divulgados, enquanto os negativos eram escondidos, o público e os médicos passaram a acreditar que esses medicamentos antidepressivos eram altamente eficazes.

Kirsch ficou impressionado com outro achado inesperado. Em seu estudo anterior, e em trabalhos de outros, observara que até mesmo tratamentos com substâncias que não eram consideradas antidepressivas – como hormônio sintético da tireoide, opiáceos, sedativos, estimulantes e algumas ervas medicinais – eram tão eficazes quanto os antidepressivos para aliviar os sintomas da depressão. Kirsch escreve: “Quando administrados como antidepressivos, remédios que aumentam, diminuem ou não têm nenhuma influência sobre a serotonina aliviam a depressão mais ou menos no mesmo grau.”



que todos esses medicamentos “eficazes” tinham em comum era que produziam efeitos colaterais, sobre os quais os pacientes participantes haviam sido informados de que poderiam ocorrer.

Diante da descoberta de que quase qualquer comprimido com efeitos colaterais era ligeiramente mais eficaz no tratamento da depressão do que um placebo, Kirsch especulou que a presença de efeitos colaterais em indivíduos que recebem medicamentos lhes permitia adivinhar que recebiam tratamento ativo – e isso foi corroborado por entrevistas com pacientes e médicos –, o que os tornava mais propensos a relatar uma melhora. Ele sugere que a razão pela qual os antidepressivos parecem funcionar melhor no alívio de depressão grave do que em casos menos graves é que os pacientes com sintomas graves provavelmente tomam doses mais elevadas e, portanto, sofrem mais efeitos colaterais.



ara investigar melhor se os efeitos colaterais distorciam as respostas, Kirsch analisou alguns ensaios que utilizaram placebos “ativos”, em vez de inertes. Um placebo ativo é aquele que produz efeitos colaterais, como a atropina – droga que bloqueia a ação de certos tipos de fibras nervosas. Apesar de não ser um antidepressivo, a atropina causa, entre outras coisas, secura da boca. Em testes utilizando atropina como placebo, não houve diferença entre os antidepressivos e o placebo ativo. Todos tinham efeitos colaterais, e todos relataram o mesmo nível de melhora.

Kirsch registrou outras descobertas estranhas em testes clínicos de antidepressivos, entre elas o fato de que não há nenhuma curva de dose-resposta, ou seja, altas doses não funcionavam melhor do que as baixas, o que é extremamente improvável para medicamentos eficazes.

“Ao se juntar tudo isso”, escreve Kirsch,“chega-se à conclusão de que a diferença relativamente pequena entre medicamentos e placebos pode não ser um efeito verdadeiro do remédio. Em vez disso, pode ser um efeito placebo acentuado, produzido pelo fato de que alguns pacientes passaram a perceber que recebiam medicamentos ou placebos. Se este for o caso, então não há nenhum efeito antidepressivo dos medicamentos. Em vez de compararmos placebo com remédio, estávamos comparando placebos ‘normais’ com placebos ‘extrafortes’.”

Trata-se de uma conclusão surpreendente, que desafia a opinião médica, mas Kirsch chega a ela de uma forma cuidadosa e lógica. Psiquiatras que usam antidepressivos – e isso significa a maioria deles – e pacientes que os tomam talvez insistam que sabem por experiência clínica que os medicamentos funcionam.

Mas casos individuais são uma forma traiçoeira de avaliar tratamentos médicos, pois estão sujeitos a distorções. Eles podem sugerir hipóteses a serem estudadas, mas não podem prová-las. É por isso que o desenvolvimento do teste clínico duplo-cego, aleatório e controlado com placebo, foi um avanço tão importante na ciência médica, em meados do século passado. Histórias sobre sanguessugas, megadoses de vitamina cou vários outros tratamentos populares não suportariam o escrutínio de testes bem planejados. Kirsch é um defensor devotado do método científico e sua voz, portanto, traz objetividade a um tema muitas vezes influenciado por subjetividade, emoções ou, como veremos, interesse pessoal.



livro de Whitaker, Anatomy of an Epidemic [Anatomia de uma Epidemia], é mais amplo e polêmico. Ele leva em conta todas as doenças mentais, não apenas a depressão. EnquantoKirsch conclui que os antidepressivos não são provavelmente mais eficazes do que placebos, Whitaker conclui que eles e a maioria das drogas psicoativas não são apenas ineficazes, mas prejudiciais. Whitaker começa por observar que, se o tratamento de doenças mentais por meio de medicamentos disparou, o mesmo aconteceu com as patologias tratadas:

O número de doentes mentais incapacitados aumentou imensamente desde 1955 e durante as duas últimas décadas, período em que a prescrição de medicamentos psiquiátricos explodiu e o número de adultos e crianças incapacitados por doença mental aumentou numa taxa alucinante. Assim, chegamos a uma pergunta óbvia, embora herética: o paradigma de tratamento baseado em drogas poderia estar alimentando, de alguma maneira imprevista, essa praga dos tempos modernos?

Além disso, Whitaker sustenta que a história natural da doença mental mudou. Enquanto transtornos como esquizofrenia e depressão eram outrora episódicos, e cada episódio durava não mais de seis meses, sendo intercalado por longos períodos de normalidade, os distúrbios agora são crônicos e duram a vida inteira. Whitaker acredita que isso talvez aconteça porque os medicamentos, mesmo aqueles que aliviam os sintomas em curto prazo, causam em longo prazo danos mentais que continuam depois que a doença teria naturalmente se resolvido.

As provas que ele apresenta para essa teoria variam em qualidade. Whitaker não reconhece suficientemente a dificuldade de estudar a história natural de qualquer doença durante um período de cinquenta anos, no qual muitas circunstâncias mudaram, além do uso de medicamentos. É ainda mais difícil comparar resultados de longo prazo de pacientes tratados e não tratados. No entanto, os indícios de Whitaker são sugestivos, se não conclusivos.



e as drogas psicoativas causam danos, como afirma Whitaker, qual é o seu mecanismo? A resposta, ele acredita, encontra-se em seus efeitos sobre os neurotransmissores. É bem sabido que as drogas psicoativas perturbam os neurotransmissores, mesmo que essa não seja a causa primeira da doença.

Whitaker descreve uma cadeia de efeitos. Quando, por exemplo, um antidepressivo como o Celexa aumenta os níveis de serotonina nas sinapses, ele estimula mudanças compensatórias por meio de um processo chamado feedback negativo. Em reação aos altos níveis de serotonina, os neurônios que a secretam liberam menos dela, e os neurônios pós-sinápticos tornam-se insensíveis a ela. Na verdade, o cérebro está tentando anular os efeitos da droga. O mesmo vale para os medicamentos que bloqueiam neurotransmissores, exceto no sentido inverso.

A maioria dos antipsicóticos, por exemplo, bloqueia a dopamina, mas os neurônios pré-sinápticos compensam isso liberando mais dopamina, e os neurônios pós-sinápticos a aceitam com mais avidez.

As consequências do uso prolongado de drogas psicoativas, nas palavras de Steve Hyman, até recentemente reitor da Universidade de Harvard, são “alterações substanciais e de longa duração na função neural”.

Depois de várias semanas de drogas psicoativas, os esforços de compensação do cérebro começam a falhar e surgem efeitos colaterais que refletem o mecanismo de ação dos medicamentos. Antipsicóticos causam efeitos secundários que se assemelham ao mal de Parkinson, por causa do esgotamento de dopamina (que também se esgota no Parkinson). À medida que surgem efeitos colaterais, eles são tratados por outros medicamentos, e muitos pacientes acabam tomando um coquetel de drogas psicoativas, prescrito para um coquetel de diagnósticos. Os episódios de mania causada por antidepressivos podem levar a um novo diagnóstico de “transtorno bipolar” e ao tratamento com um “estabilizador de humor”, como Depokote (anticonvulsivo), acompanhado de uma das novas drogas antipsicóticas. E assim por diante.

A respeitada pesquisadora Nancy Andreasen e seus colegas publicaram indícios de que o uso de antipsicóticos está associado ao encolhimento do cérebro, e que o efeito está diretamente relacionado à dose e à duração do tratamento. Como Andreasen explicou ao New York Times: “O córtex pré-frontal não obtém o que precisa e vai sendo fechado pelos medicamentos. Isso reduz os sintomas psicóticos. E faz também com que o córtex pré-frontal se atrofie lentamente.”

Largar os remédios é extremamente difícil, segundo Whitaker, porque quando eles são retirados, os mecanismos compensatórios ficam sem oposição. Quando se retira o Celexa, os níveis de serotonina caem bruscamente porque os neurônios pré-sinápticos não estão liberando quantidades normais. Da mesma forma, quando se suspende um antipsicótico, os níveis de dopamina podem disparar.Os sintomas produzidos pela retirada de drogas psicoativas são confundidos com recaídas da doença original, o que pode levar psiquiatras a retomar o tratamento com remédios, talvez em doses mais elevadas.

Whitaker está indignado com o que considera uma epidemia iatrogênica (isto é, introduzida inadvertidamente pelos médicos) de disfunção cerebral, especialmente a causada pelo uso generalizado dos novos antipsicóticos, como o Zyprexa, que provoca graves efeitos colaterais. Eis o que ele chama de “experimento de pensamento rápido”:

Imagine que aparece de repente um vírus que faz com que as pessoas durmam doze, catorze horas por dia. As pessoas infectadas se movimentam devagar e parecem emocionalmente desligadas. Muitas ganham quantidades imensas de peso – 10, 20 e até 50 quilos. Os seus níveis de açúcar no sangue disparam, assim como os de colesterol.

Vários dos atingidos pela doença misteriosa – entre eles, crianças e adolescentes – se tornam diabéticos. O governo federal dá centenas de milhões de dólares aos cientistas para decifrar o funcionamento do vírus, e eles relatam que ele bloqueia uma multidão de receptores no cérebro. Enquanto isso, exames de ressonância magnética descobrem que, ao longo de vários anos, o vírus encolhe o córtex cerebral, e esta diminuição está ligada ao declínio cognitivo. O público aterrorizado clama por uma cura.

Ora, essa doença está, de fato, atingindo milhões de crianças e adultos. Acabamos de descrever os efeitos do antipsicótico Zyprexa, um dos mais vendidos do laboratório Eli Lilly.



eon Eisenberg, professor da Universidade Johns Hopkins e da Escola de Medicina de Harvard, escreveu que a psiquiatria americana passou,no final do século XX, de uma fase “descerebrada” para uma “desmentalizada”. Ele quis dizer que, antes das drogas psicoativas, os psiquiatras tinham pouco interesse por neurotransmissores ou outros aspectos físicos do cérebro. Em vez disso, aceitavam a visão freudiana de que a doença mental tinha suas raízes em conflitos inconscientes, geralmente com origem na infância, que afetavam a mente como se ela fosse separada do cérebro.



om a entrada em cena dessas drogas, na década de 50 – processo que se acelerou na década de 80 –, o foco mudou para o cérebro. Os psiquiatras começaram a se referir a si mesmos como psicofarmacologistas, e se interessaram cada vez menos pelas histórias de vida dos pacientes.

A preocupação deles era eliminar ou reduzir os sintomas, tratando os pacientes com medicamentos que alterariam a função cerebral. Tendo sido um dos primeiros defensores do modelo biológico de doença mental, Eisenberg veio a se tornar um crítico do uso indiscriminado de drogas psicoativas, impulsionado pelas maquinações da indústria farmacêutica.

Quando as drogas psicoativas surgiram, houve um período de otimismo na profissão psiquiátrica, mas na década de 70 o otimismo deu lugar a uma sensação de ameaça. Ficaram claros os graves efeitos colaterais dos medicamentos e um movimento de antipsiquiatria lançou raízes, como exemplificam os escritos de Thomas Szasz e o filme Um Estranho no Ninho.

Havia também a concorrência crescente de psicólogos e terapeutas. Além disso, os psiquiatras sofreram divisões internas: alguns abraçaram o modelo biológico, outros se agarraram ao modelo freudiano, e uns poucos viam a doença mental como uma resposta sadia a um mundo insano. Ademais, dentro da medicina, os psiquiatras eram considerados uma espécie de parentes pobres: mesmo com suas novas drogas, eram vistos como menos científicos do que os outros especialistas, e sua renda era geralmente mais baixa.

No final da década de 70, os psiquiatras contra-atacaram, e com força. Como conta Robert Whitaker em Anatomy of an Epidemic, o diretor médico da Associação Americana de Psiquiatria, Melvin Sabshin, declarou, em 1977: “Devemos apoiar fortemente um esforço vigoroso para remedicalizar a psiquiatria.” E lançou uma campanha maciça de relações públicas para fazer exatamente isso.

A psiquiatria detinha uma arma poderosa, que seus concorrentes não podiam ter. Como cursaram medicina, os psiquiatras têm autoridade legal para escrever receitas. Ao abraçar o modelo biológico de doença mental, e o uso de drogas psicoativas para tratá-la, a psiquiatria conseguiu relegar os outros prestadores de serviços de saúde mental para cargos secundários. E se apresentou também como uma disciplina científica. E, o que é mais importante, ao enfatizar o tratamento medicamentoso, a psiquiatria tornou-se a queridinha da indústria farmacêutica, que logo tornou tangível sua gratidão.



Associação Americana de Psiquiatria, a APA, estava preparando então a terceira edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM, que estabelece os critérios de diagnóstico para todos os transtornos mentais. O presidente da Associação havia indicado Robert Spitzer, eminente professor de psiquiatria da Universidade de Columbia, para chefiar a força-tarefa que supervisionaria o Manual.

As duas primeiras edições, publicadas em 1952 e 1968, refletiam a visão freudiana da doença mental, e eram pouco conhecidas fora da profissão. Spitzer decidiu fazer da terceira edição, o DSM-III, algo bem diferente. Ele prometeu que o Manual seria “uma defesa do modelo médico aplicado a problemas psiquiátricos”, e o presidente da Associação, Jack Weinberg, disse que ele “deixaria claro para quem tivesse dúvidas que consideramos a psiquiatria uma especialidade da medicina”.

Quando foi publicado, em 1980, o DSM-III continha 265 diagnósticos (acima dos 182 da edição anterior) e logo teve um uso quase universal: não apenas por parte de psiquiatras, mas também por companhias de seguros, hospitais, tribunais, prisões, escolas, pesquisadores, agências governamentais e médicos de todas as especialidades. Seu principal objetivo era trazer coerência (normalmente chamada de “confiabilidade”) ao diagnóstico psiquiátrico. Ou seja, garantir que os psiquiatras que viam o mesmo paciente concordassem com o diagnóstico. Para isso, cada diagnóstico era definido por uma lista de sintomas, com limites numéricos. Por exemplo, ter pelo menos cinco de nove sintomas determinados garantia ao paciente um diagnóstico definitivo de episódio depressivo dentro da ampla categoria de “transtornos do humor”.

Mas havia outro objetivo: justificar o uso de drogas psicoativas. Com efeito, Carol Bernstein, a presidente da apa, reconheceu isso ao escrever: “Na década de 70, foi preciso facilitar um acordo sobre diagnósticos entre clínicos, cientistas e autoridades reguladoras, dada a necessidade de ligar os pacientes aos novos tratamentos farmacológicos.”

A terceira edição do Manual era talvez mais “confiável” do que as versões anteriores, mas confiabilidade não é a mesma coisa que validade. O termo confiabilidade é usado como sinônimo de “coerência”; validade refere-se à correção ou solidez. Se todos os médicos concordassem que as sardas são um sinal de câncer, o diagnóstico seria “confiável”, mas não válido.

O problema com o Manual é que, em todas as suas edições, ele simplesmente refletia as opiniões de seus autores. E, no caso do DSM-III, sobretudo as opiniões do próprio Spitzer, que foi apontado com justiça como um dos psiquiatras mais influentes do século xx. Em suas palavras, ele “pegou todo mundo com quem se sentia à vontade” para participar da força-tarefa de quinze membros, e houve queixas de que ele convocou poucas reuniões e conduziu o processo de uma maneira desordenada, mas ditatorial.

Num artigo de 1984 intitulado “As desvantagens do DSM-III superam suas vantagens”, George Vaillant, professor de psiquiatria de Harvard, afirmou que o DSM-III representou “uma audaciosa série de escolhas baseadas em palpite, gosto, preconceito e esperança”, o que parece ser uma boa descrição.



DSM se tornou a bíblia da psiquiatria e, tal como a Bíblia cristã, dependia muito de algo parecido com a fé: não há nele citações de estudos científicos para sustentar suas decisões. É uma omissão espantosa, porque em todas as publicações médicas, sejam revistas ou livros didáticos, as declarações de fatos devem estar apoiadas em referências comprováveis. (Há quatro “livros de consulta” separados para a edição atual do DSM, que apresentam a razão para algumas decisões, junto com referências, mas isso não é a mesma coisa que referências específicas.)

Pode ser de muito interesse para um grupo de especialistas se reunir e dar suas opiniões, mas a menos que essas opiniões possam ser sustentadas por provas, elas não autorizam a deferência extraordinária dedicada ao DSM. “A cada edição subsequente”, escreve Daniel Carlat, “o número de categorias de diagnósticos se multiplicava, e os livros se tornaram maiores e mais caros. Cada um deles se tornou um best-seller, e o DSM é hoje uma das principais fontes de renda da Associação Americana de Psiquiatria.” O Manual atual, o DSM-IV, vendeu mais de 1 milhão de exemplares.

Os laboratórios farmacêuticos passaram a dar toda a atenção e generosidade aos psiquiatras, tanto individual como coletivamente, direta e indiretamente. Choveram presentes e amostras grátis, contratos de consultores e palestrantes, refeições, ajuda para participar de conferências. Quando os estados de Minnesota e Vermont implantaram “leis de transparência”, que exigem que os laboratórios informem todos os pagamentos a médicos, descobriu-se que os psiquiatras recebiam mais dinheiro do que os médicos de qualquer outra especialidade. A indústria farmacêutica também subsidia as reuniões da APA e outras conferências psiquiátricas. Cerca de um quinto do financiamento da APA vem agora da indústria farmacêutica.

Os laboratórios buscam conquistar psiquiatras de centros médicos universitários de prestígio. Chamados pela indústria de “líderes-chave de opinião”, eles são os profissionais que, por meio do que escrevem e ensinam, influenciam o tratamento das doenças mentais. Eles também publicam grande parte da pesquisa clínica sobre medicamentos e, o que é fundamental, determinam o conteúdo do DSM. Em certo sentido, eles são a melhor equipe de vendas que a indústria poderia ter e valem cada centavo gasto com eles. Dos 170 colaboradores da versão atual do DSM, dos quais quase todos poderiam ser descritos como líderes-chave, 95 tinham vínculos financeiros com laboratórios farmacêuticos, inclusive todos os colaboradores das seções sobre transtornos de humor e esquizofrenia.

Carlat pergunta: “Por que os psiquiatras estão na frente de todos os outros especialistas quando se trata de tomar dinheiro de laboratórios?” Sua resposta: “Nossos diagnósticos são subjetivos e expansíveis, e temos poucas razões racionais para a escolha de um tratamento em relação a outro.” Ao contrário das enfermidades tratadas pela maioria dos outros ramos da medicina, não há sinais ou exames objetivos para as doenças mentais – nenhum dado de laboratório ou descoberta por ressonância magnética – e as fronteiras entre o normal e o anormal são muitas vezes pouco claras. Isso torna possível expandir as fronteiras do diagnóstico ou até mesmo criar novas diagnoses, de uma forma que seria impossível, por exemplo, em um campo como a cardiologia. E as empresas farmacêuticas têm todo o interesse em induzir os psiquiatras a fazer exatamente isso.

Além do dinheiro gasto com os psiquiatras, os laboratórios apoiam muitos grupos de defesa de pacientes e organizações educacionais. Whitaker informa que, somente no primeiro trimestre de 2009, o “Eli Lilly deu 551 mil dólares à Aliança Nacional para Doenças Mentais, 465 mil dólares para a Associação Nacional de Saúde Mental, 130 mil dólares para um grupo de defesa dos pacientes de déficit de atenção/hiperatividade, e 69 250 dólares para a Fundação Americana de Prevenção ao Suicídio”.

E isso foi o que apenas um laboratório gastou em três meses; pode-se imaginar qual deve ser o total anual de todas as empresas que produzem drogas psicoativas. Esses grupos aparentemente existem para conscientizar a opinião pública sobre transtornos psiquiátricos, mas também têm o efeito de promover o uso de drogas psicoativas e influenciar os planos de saúde para cobri-los.



omo a maioria dos psiquiatras, Carlat trata seus pacientes apenas com medicamentos, sem terapia de conversa, e é sincero a respeito das vantagens de fazer isso. Ele calcula que, se atender três pacientes por hora com psicofarmacologia, ganha cerca de 180 dólares por hora dos planos de saúde. Em contrapartida, poderia atender apenas um paciente por hora com terapia de conversa, pela qual os planos lhe pagariam menos de 100 dólares. Carlat não acredita que a psicofarmacologia seja particularmente complicada, muito menos precisa, embora o público seja levado a acreditar que é.

Seu trabalho consiste em fazer aos pacientes uma série de perguntas sobre seus sintomas, para ver se eles combinam com algum dos transtornos catalogados no DSM. Esse exercício de correspondência, diz ele, propicia “a ilusão de que compreendemos os nossos pacientes, quando tudo o que estamos fazendo é atribuir-lhes rótulos”. Muitas vezes os pacientes preenchem critérios para mais de um diagnóstico, porque há sobreposição de sintomas.

Um dos pacientes de Carlat acabou com sete diagnósticos distintos. “Nós miramos sintomas distintos com os tratamentos, e outros medicamentos são adicionados para tratar os efeitos colaterais.” Um paciente típico, diz ele, pode estar tomando Celexa para depressão, Ativan para ansiedade, Ambien para insônia, Provigil para fadiga (um efeito colateral do Celexa) e Viagra para impotência (outro efeito colateral do Celexa).

Quanto aos próprios medicamentos, Carlat escreve que “há apenas um punhado de categorias guarda-chuva de drogas psicotrópicas”, sob as quais os medicamentos não são muito diferentes uns dos outros. Ele não acredita que exista muita base para escolher entre eles. E resume:

Assim é a moderna psicofarmacologia. Guiados apenas por sintomas, tentamos diferentes medicamentos, sem nenhuma concepção verdadeira do que estamos tentando corrigir, ou de como as drogas estão funcionando. Espanto-me que sejamos tão eficazes para tantos pacientes.

Carlat passa então a especular, como Kirsch em The Emperor’s New Drugs, que os pacientes talvez estejam respondendo a um efeito placebo ativado. Se as drogas psicoativas não são tudo o que é alardeado – e os indícios indicam que não são –, o que acontece com os próprios diagnósticos? Como eles se multiplicam a cada edição do DSM?



m 1999, a APA começou a trabalhar em sua quinta revisão do DSM, programado para ser publicado em 2013. A força-tarefa de 27 membros é chefiada por David Kupfer, professor de psiquiatria da Universidade de Pittsburgh. Tal como nas edições anteriores, a força-tarefa é assessorada por vários grupos de trabalho, que agora totalizam cercade 140 membros, correspondentes às categorias principais de diagnóstico. As deliberações e propostas em curso foram amplamente divulgadas, e parece que a constelação de transtornos mentais vai crescer ainda mais.

Em particular, os limites dos diagnósticos serão ampliados para incluir os precursores dos transtornos, tais como “síndrome do risco de psicose” e “transtorno cognitivo leve” (possível início do mal de Alzheimer). O termo “espectro” é usado para ampliar categorias, e temos,por exemplo, “espectro de transtorno obsessivo-compulsivo”, “transtorno do espectro da esquizofrenia” e “transtorno do espectro do autismo”. E há propostas para a inclusão de distúrbios totalmente novos, como “transtorno hipersexual”, “síndrome das pernas inquietas” e “compulsão alimentar”. Até mesmo Allen Frances, presidente da força-tarefa do DSM-IV, escreveu que a próxima edição do Manual será uma “mina de ouro para a indústria farmacêutica”.

A indústria farmacêutica influencia psiquiatras a receitar drogas psicoativas até mesmo a pacientes para os quais os medicamentos não foram considerados seguros e eficazes. O que deveria preocupar enormemente é o aumento espantoso do diagnóstico e tratamento de doenças mentais em crianças, algumas com apenas 2 anos de idade. Essas crianças são tratadas muitas vezes com medicamentos que nunca foram aprovados pela FDA para uso nessa faixa etária, e têm efeitos colaterais graves. A prevalência de “transtorno bipolar juvenil” aumentou quarenta vezes entre 1993 e 2004, e a de “autismo” aumentou de 1 em 500 crianças para 1 em 90 ao longo da mesma década. Dez por cento dos meninos de 10 anos de idade tomam agora estimulantes diários para o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.

Seria muito difícil achar uma criança de 2 anos que não seja às vezes irritante, um menino de 5ª série que não seja ocasionalmente desatento, ou uma menina no ensino médio que não seja ansiosa. Rotular essas crianças como tendo um transtorno mental e tratá-las com medicamentos depende muito de quem elas são e das pressões que seus pais enfrentam.

Como as famílias de baixa renda estão passando por dificuldades econômicas crescentes, muitas descobriram que o pedido de renda de seguridade suplementar com base na invalidez mental é a única maneira de sobreviver. Segundo um estudo da Universidade Rutgers, descobriu-se que crianças de famílias de baixa renda têm quatro vezes mais probabilidade de receber medicamentos antipsicóticos do que crianças com plano de saúde privado.

Os livros de Irving Kirsch, Robert Whitaker e Daniel Carlat são acusações enérgicas ao modo como a psiquiatria é praticada hoje em dia. Eles documentam o “frenesi” do diagnóstico, o uso excessivo de medicamentos com efeitos colaterais devastadores e os conflitos de interesse generalizados. Os críticos podem argumentar, como Nancy Andreasen o faz em seu artigo sobre a perda de tecido cerebral no tratamento antipsicótico de longo prazo, que os efeitos colaterais são o preço que se deve pagar para aliviar o sofrimento causado pela doença mental. Se soubéssemos que os benefícios das drogas psicoativas superam seus danos, isso seria um argumento forte, uma vez que não há dúvida de que muitas pessoas sofrem gravemente com doenças mentais. Mas como Kirsch, Whitaker e Carlat argumentam, essa expectativa pode estar errada.



o mínimo, precisamos parar de pensar que as drogas psicoativas são o melhor e, muitas vezes, o único tratamento para as doenças mentais. Tanto a psicoterapia como os exercícios físicos têm se mostrado tão eficazes quanto os medicamentos para a depressão, e seus efeitos são mais duradouros. Mas, infelizmente, não existe indústria que promova essas alternativas. Mais pesquisas são necessárias para estudar alternativas às drogas psicoativas.

Em particular, precisamos repensar o tratamento de crianças. Nesse ponto, o problema é muitas vezes uma família perturbada em circunstâncias conturbadas. Tratamentos voltados para essas condições ambientais – como auxílio individual para pais ou centros pós-escola para as crianças – devem ser estudados e comparados com o tratamento farmacológico.

No longo prazo, essas alternativas seriam provavelmente mais baratas. Nossa confiança nas drogas psicoativas, receitadas para todos os descontentes com a vida, tende a excluir as outras opções. Em vista dos riscos, e da eficácia questionável dos medicamentos em longo prazo, precisamos fazer melhor do que isso. Acima de tudo, devemos lembrar o consagrado ditado médico: em primeiro lugar, não causar dano (primum non nocere).

domingo, 26 de junho de 2011

Congesso de Cérebro, Comportamento e Emoções

Aconteceu pela última vez na bela Gramado o Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções.

O Tema versou sobre os 7 Pecados Capitais.

Conversei com o Professor Diogo Lara sobre o problema do determinismo biológico ao que chamamos pecado e ele com sua teoria do Temperamento ajudou o meu projeto de escrever sobre o tema.

A viagem foi excelente e tive a companhia de minha esposa, o que muito me ajudou.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Eticidade e legalidade dos CAPS III e ADII são alvos de consulta

A Câmara Técnica de Psiquiatria finalizou parecer sobre a legalidade e a eticidade dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) III e ADII. O Conselho Federal de Medicina (CFM) está preocupado com a segurança dos pacientes em um ambiente sem médico 24 horas e na segurança do ato médico nas unidades.

O grupo esteve reunido nesta quinta-feira (16), em Brasília. Segundo o coordenador da Câmara Técnica e 3º vice-presidente do Conselho, Emmanuel Fortes, a entidade quer preservar a segurança da assistência das pessoas portadoras de doença mental, “assegurando a melhor forma de assistência e direitos enquanto cidadão”.

O coordenador ponderou ainda a garantia de um ato médico seguro. “Assistimos um ambiente que demonstra precariedade dos equipamentos o que causa vulnerabilidade no ato médico. Precisamos garantir um exercício ético da medicina para que o profissional não seja acusado de negligência, imperícia e imprudência”, apontou Fortes.

Segundo o Parecer, por possuírem leitos de internação, os CAPS III e ADII e devem obedecer a Resolução CFM 1834/2008, que determina a obrigatoriedade da presença de médico no local nas 24 horas, com o objetivo de atendimento continuado dos pacientes, independe da disponibilidade médica em sobreaviso nas instituições de saúde que funcionam dando suporte a tais estabelecimentos médicos.

A consulta ainda precisa ser apreciada pelo plenário do CFM.

Diretrizes – A Câmara Técnica trabalha ainda em critérios de aplicação das diretrizes da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Durante a reunião, os membros discutiram mais uma etapa de consolidação das resoluções que tratam da psiquiatria visando a adequação.

“A medida define o compromisso e a responsabilidade dos psiquiatras, diretores técnicos e chefes de serviço quanto ao respeito dos aspectos humanistas e humanitários do modelo de assistência no país, em função da Lei 10.216/01”, concluiu o 3º vice-presidente do CFM.

***

PARECER CRM/MS N° 08/2007

PROCESSO CONSULTA CRMMS Nº 07/2007



PARECERISTA: Conselheiro Manuel Gaspar Manso Pérez



EMENTA: Os CAPS – Centros de Atenção Psicossocial, legalmente estruturados facilitam o atendimento multidisciplinar, centralizado em um só local, sendo esta abordagem a mais adequada para as ações relativas à saúde mental.

DA CONSULTA



O Dr. R. A., inscrito neste CRM, com área de atuação em Psiquiatria da Infância e da Adolescência, em correspondência dirigida a este Conselho por orientação da Ouvidoria do CRM, declara:

“Realizo atendimento psiquiátrico de crianças e adolescentes no Ambulatório de Psiquiatria da Santa Casa de Campo Grande. Caso contínuo, estas crianças necessitam ser encaminhadas para atendimentos psicoterápico ou fonoaudiológico em outros locais conveniados do SUS. Entretanto, é de meu conhecimento que as crianças que estão sob meus cuidados e chegam ao CAPSi para procura dos outros atendimentos, são compulsoriamente desligadas do atendimento médico realizado por mim na Santa Casa para então serem atendidas “integralmente” pela equipe multidisciplinar do referido CAPSi e pela colega psiquiatra Dra. G.B.P..”

Acrescenta, ainda, que

“...foi informado por várias mães, que se recusaram a tratar seus filhos com a Dra. G. no CAPSi, que não poderiam realizar os demais atendimentos, como o psicoterápico neste local.”

Finalmente questiona:

“...no sentido de saber se este procedimento é correto, nestes tempos, nos quais se prima pela interlocução entre os profissionais de saúde dos diversos serviços de saúde conveniados ao SUS ou não. E, particularmente, neste período no qual a assistência em saúde mental no município de Campo Grande, como em todo o estado do MS, encontra-se em um nível de insuficiência tão alarmante tanto para os profissionais da área de saúde quanto para os usuários do SUS.”



PARECER



Os CAPS - Centros de Atenção Psicossocial, instituídos juntamente com os NAPS - Núcleos de Assistência Psicossocial, através da Portaria/MS/SAS Nº 224 - 29/01/1992, modificada pela Portaria Nº 336/GM de 19/02/2002, são unidades de saúde locais/regionalizadas que contam com uma população adscrita definida pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de 4 horas, por equipe multiprofissional, constituindo-se também em porta de entrada da rede de serviços para as ações relativas à saúde mental.

Da portaria nº 336/GM extraímos:

O Ministro da Saúde, através da Portaria Nº 336/GM de 19/02/2002, considerando a necessidade de atualização das normas constantes da Portaria MS/SAS Nº 224, define:

Art. 1º - Estabelecer que os Centros de Atenção Psicossocial poderão constituir-se nas seguintes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e CAPS III, definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional, conforme disposto nesta Portaria;

Art. 3º - Estabelecer que os CAPS só poderão funcionar em área física específica e independente de qualquer estrutura hospitalar.

Art. 4º...

4.4 – CAPS i II – Serviço de atenção psicossocial para atendimentos a crianças e adolescentes, constituindo-se na referência para uma população de cerca de 200.000 habitantes ou outro parâmetro populacional a ser definido pelo gestor local, atendendo a critérios epidemiológicos com as seguintes características:

..........

d – coordenar, por delegação do gestor local, as atividades de supervisão de unidades de atendimento psiquiátrico a crianças e adolescentes no âmbito do seu território;

..........

4.4.1 – A assistência prestada ao paciente no CAPS i II inclui as seguintes atividades:

a – atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico de orientação , entre outros);

b – atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, entre outros);

c – atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de nível superior ou nível médio;

d – visitas e atendimentos domiciliares;

e – atendimento à família;

f – atividades comunitárias enfocando a integração da criança e do adolescente à família, na escola, na comunidade ou quaisquer outras formas de inserção social.

..........

4.4.2 – Recursos Humanos:

a – 01 (um) médico psiquiatra, ou neurologista ou pediatra com formação em saúde mental;

b – 01 (um) enfermeiro;

..........

Art. 6º - Estabelecer que os atuais CAPS e NAPS deverão ser recadastrados nas modalidades CAPS I, II, III, CAPS i II e CAPS ad II pelo gestor estadual, após parecer técnico da Secretaria de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde.

..........











CONCLUSÃO



Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são serviços de saúde mental de base territorial e comunitária do SUS, referenciais no tratamento das pessoas que sofrem com transtornos mentais (psicoses, neuroses graves e demais quadros), cuja severidade e/ou persistência justifiquem sua permanência em um dispositivo de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida. O objetivo dos Caps é oferecer atendimento à população de sua área de abrangência, realizando o acompanhamento clínico e a reinserção social dos usuários, pelo acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários. É um serviço de atendimento de saúde mental criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos, equipamento estratégico da atenção extra-hospitalar em saúde mental. Existem diferentes tipos de Caps, segundo seu porte e clientela: Caps I - serviço aberto para atendimento diário de adultos com transtornos mentais severos e persistentes: trata-se de equipamento importante para municípios com população entre 20 mil e 70 mil habitantes; Caps II - serviço aberto para atendimento diário de adultos com transtornos mentais severos e persistentes: trata-se de equipamento importante para municípios com população com mais de 70 mil habitantes; Caps III - serviço aberto para atendimento diário e noturno, durante sete dias da semana, de adultos com transtornos mentais severos e persistentes: trata-se de equipamento importante em grandes cidades; Caps i - voltado para a infância e adolescência, para atendimento diário a crianças e adolescentes com transtornos mentais; Caps ad - voltado para usuários de álcool e outras drogas, para atendimento diário à população com transtornos decorrentes do uso de substâncias.

A existência de outros serviços de atendimento em saúde mental, na forma de ambulatórios ou clínicas, sejam eles de forma multidisciplinar ou não, separados dos CAPS, constituem alternativa para os usuários, que podem, se assim preferirem optar por esses locais para seu atendimento, devendo, porém, esses serviços seguir a normatização da Portaria Nº 336/GM de 19/02/2002.



Este é o parecer.



Campo Grande, 22 de outubro de 2007







Conselheiro Manuel Gaspar Manso Pérez





Parecer Aprovado na Sessão Plenária do

Dia 23/11/2007

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Um olhar sobre a Reforma


No dia 26 de março, fiz uma viagem em ônibus da Secretaria Municipal de Saúde, em companhia das Assistentes Sociais, Maria Aparecida Stocco e Constância e o técnico de Enfermagem Victor à Colônia de Rio Bonito. O objetivo foi resgatar 5 pacientes campistas que lá estavam havia mais de dez anos.


O que posso dizer da visita?


Que me fez ter certeza de que a Reforma Psiquiátrica é uma realidade necessária e urgente, tamanha a degradação humana que é a vida no asilamento psiquiátrico. O manicômio é uma herança da idade média e não se pode imaginar o terceiro milênio com resquício tão mesquinho da era obscura da humanidade.


Todavia há um lado cruel da Reforma.


A "volta para casa" não prepara a ave cativa para deixar a gaiola. E eles deixam o seu "presídio" mais amedrontados do que felizes. Os próprios funcionários aclimatados com o cotidiano patológico choram na despedida, deixando transparecer a face desumana de âmbito particular de um processo humanitário no âmbito coletivo.


A foto do nosso grupo com os pacientes "de volta para casa", bem demonstra o olhar de pavor ou de estupefação de seres humanos cuja vida foi grande parte vivida num cativeiro íntimo e num cativeiro real.

sábado, 5 de março de 2011

Psiquiatra analisa assassina da menina Lavínia e diz que ela pode ter transtorno

Psiquiatra analisa assassina da menina Lavínia e diz que ela pode ter transtorno

Dr. Antônio Geraldo, Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, fala ao Programa Mais Você sobre o caso

O Mais Você dessa quinta-feira, 3 de março, falou sobre a morte violenta da menina Lavínia, de 6 anos, no Rio de Janeiro.

Lavínia foi encontrada morta ontem em um hotel no centro de Duque de Caxias, na baixada fluminense. Um cadarço de sapato foi usado para asfixiar a garota. A amante do pai de Lavínia, Luciene Santana, de 24 anos, confessou ter matado a menina e teve prisão temporária decretada pela justiça. As pessoas, revoltadas com o crime, acompanharam a chegada de Luciene à carceragem da Polinter de Magé.

Ana Maria aproveitou esse triste acontecimento para desabafar: “Até onde pode ir a maldade de uma pessoa? O que faz o ser humano perder a capacidade de discernir? De separar o certo do errado e agir sem dó nem piedade contra uma criança?”, disse.

Ao vivo do cemitério do Corte Oito, em Duque de Caxias, a repórter Gabriela de Palhano, contou que tentou conversar com a mãe de Lavínia, mas ela não quis gravar entrevista. O pai estava em choque, muito abalado. A jornalista conversou com eles fora das câmeras e disse que mãe estava confiante que menina estaria viva e bem e ninguém esperava por isso. Segundo a polícia, Luciene tinha obsessão pelo amante Rony e vivia numa margem de miséria. Ele pagava aluguel pra ela. A polícia contou também que Luciene já tinha um histórico problemático, ela foi levada para o Conselho Tutelar quando criança pela mãe.

MAIS VOCÊ RELEMBRA CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇA

Parente da vítima fala sobre a reação da mãe
Ana Maria conversou com uma prima da pequena Lavínia, a advogada Adriana Santana da Silva. Ela fala da reação de Andreia, e compara com o caso do goleiro Bruno. “Ela me faz lembrar o pai da Eliza Samúdio. Ela fala calmamente e chora o tempo todo, mas compenetrada. É surpreendente”. Adriana acha que ainda há coisas a serem reveladas. “A gente só acredita que será revelado o que aconteceu quando quebrarem o sigilo telefônico. “A principio, a Luciene matou a Lavínia logo assim que a pegou. O dinheiro que estava pedindo, era pra proprocioar a fuga. Ela é uma pessoa ardilosa. O tempo todo, ela queria incriminar o marido, tanto que ela chamou ele pra ir ao hotel com ela. Para jogar a culpa nele. A mente dela é ardilosa", disse.

“Neste momento me divido em duas. A prima e a dvogada. O que me da força é a certeza que a justiça vai ser feita. A gente acha que as penas sao muito brandas. Uma pessoa condenada a 30 anos, em breve está na rua. Vou advogar neste caso. Irei acompanhar, assistir a acusação, para ter certeza que a Lavinia não voltamais, mas a justiça vai ser feita.”

Psiquiátra analisa o caso
Ana Maria conversou também com Antônio Geraldo Silva, Presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, que estuda a mente dos criminosos. “Neste caso, por tudo que ouvi, penso em algo que possa ter uma relação ao tipo de gente que chamamos de ‘mentes criminosas’, que antigamente eram denominados psicopatas ou sociopatas”.

Segundo o psiquiatra, esse transtorno está ligado à história de vida da pessoa. No caso da Luciene, desde 12 anos de idade ela já tem problemas com o Conselho Tutelar. “Estas pessoas têm uma imaturidade, deficiência afetiva, não tem a ver com doença mental. Elas pensam apenas em si mesmas. Elas querem satisfação imediata”, disse.


“Estas pessoas mentem compulsivamente. Acha que os outros não percebem que elas mentem. Ela acredita na mentira dela, e elas vivem neste funcionamento. Normalmente são pessoas superficiais, com charme superficial. Não tem tratamento, não tem uma comprovação cientifica que tem tratamento".


Saiba como aconteceu
Tudo começou por volta das três horas da manhã de segunda-feira. Quando o pai chegou em casa, Lavínia acordou, foi a última vez que Andréia viu a filha com vida. A menina teria voltado a dormir e, pela manhã, Lavínia não estava mais lá. A janela e a porta da casa foram encontradas abertas. A família pensou que se tratava de um sequestro e ainda tinha esperanças de encontrar a menina.

Logo após o desaparecimento da menina o pai acusou a amante. Luciene tentou culpar o ex-marido pelo desaparecimento da menina. Ontem, no decorrer do dia, as provas contra Luciene ficaram mais evidentes. Funcionários do hotel onde foi encontrado o corpo da menina reconheceram a amante de Ronei.

Luciene chegou a se encontrar com o pai de Lavínia pedindo dinheiro para dizer onde estaria a menina. Tios e primos dele que acompanhavam o encontro de longe, chamaram a polícia. Ainda antes da confissão, a polícia divulgou imagens que não deixam dúvidas sobre a participação de Luciene no crime. o circuito interno de um ônibus de Caxias mostra que Lavínia estava com ela logo após a menina ter sido tirada de casa.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Intento Sucida e Antidepressivos

A Disposição Suicida é considerada pela atual Neurociëncia como uma mescla entre três fatores que se tornam uma verdadeira nitroglicerina: Ansiedade Intensa, Impulsividade e Agressividade. Esses fatores no individuo Deprimido estão contidos ou desarmados pela Grande Inibição Psicomotora(pano de fundo de toda Depressão).

O risco da prescrição de um Antidepressivo, prescrição muito comum entre clínicos e outros especialistas não psiquiatras, é o de DESINIBIR os processos psicomotores e liberar o Impulso suicida.

Em outras palavras: o uso pouco discriminado de Antidepressivos está relacionado ao Suicídio.

É com essa introdução que eu peço aos colegas que evitem ao máximo a prescrição dos Antidepressivos, mesmo por que TODOS ELES, indistintamente, de primeira, segunda ou terceira geração (as chmadas pró-drogas, sem metabolismo de primeira passagem hepática), TEM UMA LATËNCIA DE DUAS A QUATRO SEMANAS para produzir os efeitos antidepressivos, além de produzirem aumento de ansiedade inicial.

É recomendável, em solicitação da ABP aos demais clínicos, que se usem Ansiolíticos de alta potência em baixas dosagens, como o clonazepam e o alprazolan (até 0.5 mg) uma vez ao dia ou 0.25 mg sob demanda; até a visita ao psiquiatra.

Sendo a Depressão, como as demais entidades psiquiátricas de Exclusivo Diagnóstico Clínico, é óbvio que este precisa ser muito bem feito e não ser um subdiagnóstico relacionado a fases da vida ou momentos hormonais ou sazonais. ( Não há, Não há mesmo Diagnóstico de Transtorno de Humor por Imagem ou dosagem sérica de serotonina ou Lítio)

Tristeza não é Depressão. Luto não é Depressão e contr-indica o uso de antidepressivos. Melancolia não é Depressão, é traço de Personalidade.

Flávio Mussa Tavares

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

JUNTAR BUGIGANGAS

Juntar bugiganga demais pode ser sintoma de TOC ou depressão

Não existe vida nem história sem objetos, dizem os antropólogos.

Isso explica os museus, as coleções de selo e até a pilha de revistas no canto da estante.

Não explica, porém, como e por que cada vez mais há quem adore (e estoque) bugigangas que, segundo a definição do dicionário, já deveriam estar no lixo.

"Objetos são muito mais simbólicos do que funcionais. Eles têm valor afetivo", diz o antropólogo Everardo Rocha, da PUC-Rio.

"Cada um quer ser curador da própria vida, ter uma coleção imensa de objetos. Muitas pessoas não sabem mais o que é lixo e o que não é."

A antropóloga e pesquisadora da Unicamp Valéria Brandini diz que os objetos carregam escolhas. Por isso é tão difícil jogar fora algo que, para os outros, não passa de quinquilharia.

"Livrar-se de uma roupa velha pode significar perder uma parte de você, mesmo sabendo que aquilo pode ser útil para alguém."

EU OU O LIXO

A princípio, não há nada de errado em acumular coisas. Até que suas coleções sejam tantas que passem a incomodar alguém.

O comerciante Sérgio Valente, 42, não aguentava mais viver junto com as roupinhas de bebê de seus filhos, já adolescentes.

Sua esposa, Neide, 41, publicitária, fazia questão de guardar tudo. Tinha pilhas de roupas de todos os tamanhos (para usar se engordasse), utensílios de cozinha velhos e congelados vencidos.

"Ela é desorganizada e dizia que não tinha tempo para arrumar. Dei um basta e insisti para contratarmos alguém que ajudasse nisso."

Foram 11 dias de trabalho de uma especialista em organização e mais de 60 sacos de lixo de cem litros. E muitas coisas ainda ficaram.

De acordo com a psiquiatra Ana Gabriela Hounie, da Associação Brasileira de Psiquiatria, o colecionismo (mania de guardar objetos), quando em excesso, pode ser sintoma de transtorno obsessivo-compulsivo ou estar associado a depressão.

Essas pessoas guardam dúzias de garrafas PET, escovas ou pilhas de enlatados.

"Sempre há uma justificativa. Elas dizem que pode ser útil, que vão usar no futuro. Mas, no fim, nunca usam."

O psiquiatra Alvaro Ancona de Faria, da Unifesp, explica que ter um histórico de dificuldades financeiras pode desencadear o problema.

"É um tipo de insegurança. Como se ela precisasse ter gasolina de reserva mesmo com o tanque cheio."

Segundo Hounie, é difícil diferenciar o colecionismo saudável do transtorno. Muitas vezes, além de guardar, a pessoa compra sem controle.

Os casos mais extremos aparecem com a Síndrome de Diógenes --uma referência ao filósofo grego que vivia dentro de um barril.

Quem tem a síndrome vive no meio do lixo, com pouca atenção à higiene, em um ato de autonegligência.

"Há pessoas ricas assim. É um transtorno difícil de ser tratado porque quem tem não se incomoda", afirma a psiquiatra Bárbara Perdigão, autora de um artigo sobre o assunto publicado na última edição do "Jornal Brasileiro de Psiquiatria".

Muitas vezes, nem terapia resolve. E, quando a casa é limpa, pouco tempo depois já volta a ficar como antes.

SEM LUXO

No fim de 2008, o empresário e escritor americano Dave Bruno, 39, decidiu que ia tentar viver com apenas cem objetos pessoais durante o ano seguinte.

Foi o que ele chamou de "100 Thing Challenge" (o desafio das 100 coisas).

O desafio foi vencido sem dificuldades, diz ele. Tanto é que, mesmo depois de terminá-lo, continua vivendo com pouco. Na última contagem, em agosto de 2010, tinha 94 pertences, incluindo as peças de roupa e descontando meias e cuecas.

"Eu não acho que há alguma coisa sem a qual eu não poderia viver. Só não me livraria da minha aliança", disse ele à Folha.

A escritora Letícia Braga, 39, decidiu viver com pouco depois de perder o marido e se ver em uma casa cheia de coisas que não usava.

Mudou para um apartamento bem menor e deixou para trás móveis, revistas, eletrodomésticos e roupas.

A experiência rendeu um livro: "O Prazer de Ficar em Casa" (Casa da Palavra, 80 págs., R$ 14,90).

"Tenho um fogão de quatro bocas e quatro panelas. Tenho só uma gaveta de utensílios, e olha que gosto de cozinhar", diz.

ENTÃO LIBERA

Não é preciso ser tão minimalista, mas para a filosofia chinesa do Feng Shui, já passou da hora de dar destino às coisas inúteis que você insiste em dizer que não são lixo.

"Objetos sem utilidade ocupam espaço físico e mental e dificultam a organização das ideias", diz Maria Elena Passanesi, especialista em cosmologia chinesa.

Para a organizadora Ingrid Lisboa, bagunça é sinal de que algo está sobrando. "O descarte é o primeiro passo da organização", afirma.

Segundo ela, todo mundo sempre tem algo no fundo do armário que não usa. Mesmo as pessoas mais organizadas e menos consumistas.

"Roupa velha é o que mais guardam. A peça não serve, está fora de moda, e a pessoa pensa que vai voltar a usar um dia. Só se for a uma festa do ridículo."

DESCARTE

SEM PENSAR

Tudo o que estiver quebrado ou velho demais. Vale para louças amareladas, panelas e potes de plástico sem tampa (ou tampas sem potes de plástico) e roupas velhas

PASSADO

Com alimentos e cosméticos é simples: passou a data de validade, lixo. Mas travesseiros, plásticos e escovas de dentes também vencem. Potes plásticos costumam ter validade de dois anos

NÃO COMPENSA

O conserto pode sair mais caro do que comprar um novo. É o caso de casacos de pele, peças de couro ou de verniz. A maioria dos eletrodomésticos também é descartável, como aparelhos de DVD e liquidificadores

PARADOS

Se você comprou faz um tempo e nunca usou, provavelmente nunca vai usar. Se você já usou, há uma tolerância. Alguns dizem que, para roupas, o prazo é dois anos. Para utensílios de cozinha, um ano

VÁRIOS DO MESMO

Três xampus pela metade, esmaltes da mesma cor e cremes iguais. Separe dois ou três e se livre do resto. Revistas e jornais com matérias não lidas podem ser recortados e guardados. Por que não imprimir receitas em vez de guardar pilhas de revistas que têm só uma receita boa?

PURGATÓRIO

Quando não tiver certeza se vai usar ou não um objeto, separe e deixe em um local visível por um tempo, como se estivesse de castigo. Coloque um limite de tempo (um mês, por exemplo). Se não usar durante esse tempo, é melhor doar

LIBERADOS

As exceções para as regras de uso são os sobretudos, casacos clássicos, agasalhos usados em viagens internacionais ou roupas esportivas (mergulho ou esqui) usadas em viagens. Livros de estimação e utensílios de cozinha temáticos e sazonais como formas de biscoito de Natal também são perdoados

PASSE ADIANTE ROUPAS, ELETRODOMÉSTICOS E MÓVEIS

APAE DE SÃO PAULO

Atende pessoas com deficiência intelectual
Aceita doações de brinquedos, livros, eletrodomésticos, roupas e móveis que serão usados pela própria instituição ou vendidos em bazares
Como doar: Retira em casa. Tel. (11) 5080-7123, SP; www.apaesp.org.br

CASAS ANDRÉ LUIZ

Atende crianças com deficiência mental
Aceita móveis, utensílios domésticos, livros, roupas, calçados etc. Tudo é vendido nas lojas do Mercatudo Casas André Luiz.
O dinheiro é revertido para a instituição
Como doar: Retira na região de São Paulo, Campinas e Sorocaba. Tel. (11) 2459-7000, SP; www.mercatudo.org.br

AACD

Atende crianças com deficiência física
Aceita roupas, sapatos, bijouterias e brinquedos em bom estado que serão vendidos em bazares
Como doar: Os produtos devem ser entregues na AACD, r. Pedro de Toledo, 1.620, Vila Clementino, SP, de segunda a sexta, das 8h às 17h; www.aacd60anos.com.br

LAR ESCOLA SÃO FRANCISCO

Atende pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida
Aceita livros, roupas, brinquedos, móveis e eletrônicos em bom estado para o bazar da entidade
Como doar: Retira em casa. Tel. (11) 5908-7899, SP; www.lesf.org.br

EXÉRCITO DE SALVAÇÃO

Auxilia populações atingidas por desastres naturais e vítimas de conflitos
Aceita roupas, móveis, brinquedos, sapatos, livros, computadores ou outros objetos que serão destinados a famílias carentes ou bazares
Como doar: Retira em casa. Tels. (11) 4003-2299, SP ou (21) 4003-2299, RJ; www.exercitodoacoes.org.br

PORTAL DA AJUDA

Cadastra entidades que precisam de doação, recebe e distribui o que é arrecadado
Aceita eletrodomésticos, móveis, roupas, brinquedos, material escolar, livros, itens de cozinha, itens de informática, material de construção etc. Os produtos são destinados a mais de 40 entidades
Como doar: Retira em casa. Tel. (11) 5181-1330, SP; www.portaldajuda.org.br. É possível escolher para qual entidade você quer doar

FUNDAÇÃO ABRINQ

Desenvolve ações e projetos relacionados à proteção dos direitos da infância e da adolescência
Aceita qualquer tipo de doação. O material é repassado para instituições parceiras
Como doar: Dependendo da doação, retira em casa. Tel. (11) 3848-4908, SP; www.fundabrinq.org.br